Artigo da autoria de Clara Rodrigues, Formadora da CONPRO e Consultora em Impacto e Inovação Social, Indicadores e Reportes de Sustentabilidade.
O ano de 2030 aproxima-se rapidamente e traz consigo o prazo estabelecido para o cumprimento de metas para muitos dos planos, estratégias e medidas ligadas à sustentabilidade, incluindo o Pacto Ecológico Europeu e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que serviram de referência a tanto outros.
Chega, portanto, o momento de refletir sobre o progresso feito, de rever as trajetórias e apontar novos/possíveis caminhos para o futuro.
Em fevereiro de 2025, o Joint Research Initiative publicou o relatório de progresso sobre a concretização do Pacto Ecológico Europeu. Trata-se da avaliação mais exaustiva feita até ao momento para cada um dos temas do Pacto. E as notícias não são as mais otimistas: das 154 metas, 32 estão atualmente ‘no bom caminho’ e 64 estão identificadas como em ‘necessidade de aceleração’, o que significa que estão a funcionar, mas são necessários mais progressos para cumprir as metas a tempo. Quinze das metas foram consideradas como ‘não progredindo’ ou ‘regredindo’, e para 43 das metas não há dados disponíveis no momento. Dito de outra forma, apenas 21% do Pacto segue um percurso favorável, apesar de haver expectativa sobre medidas em fase de implementação.
Também o último relatório de progresso dos ODS (julho de 2024) aponta para um claro fracasso dos esforços até ao momento. De acordo com o documento, a avaliação de progresso de 2024 revela que o mundo está gravemente fora da rota para alcançar a Agenda 2030. Das 135 metas, apenas 17% estão a progredir como esperado. Quase metade (48%) apresenta desvios moderados a graves da trajetória desejada, 30% mostram progresso marginal e 18% indicam progresso moderado. De forma alarmante, 18% das metas estagnaram e 17% regrediram abaixo dos níveis de referência de 2015.
A reflexão sobre estes dados inclina-nos a apontar o fracasso dos modelos de sustentabilidade, tal como têm sido disseminados… isto, apesar de não termos sequer assistido à sua maturidade em termos de execução.
De facto, medidas de mitigação e adaptação às alterações climáticas, às mudanças sociodemográficas ou à transformação geopolítica não estão a ser suficientes para alavancar o ciclo de exaustão dos recursos terrestres, incluindo dos recursos humanos. É neste cenário que surgem os modelos regenerativos, acrescentando e evoluindo sobre a abordagem tradicional à sustentabilidade. Há, inclusive, um movimento em curso para os próximos serem Objetivos de Desenvolvimento Regenerativo.
Como medimos o impacto regenerativo para o futuro?
Ao contrário dos modelos que se concentram principalmente na minimização de danos (por exemplo pela redução das emissões de gases de efeitos estufa), as abordagens regenerativas visam restaurar, renovar e melhorar ecossistemas, comunidades e economias (por exemplo, pela reflorestação e consequente aumento da captura de carbono da atmosfera e de recuperação da biodiversidade). O princípio de base é devolver mais/melhor do que se retira, ao invés de almejar a “neutralidade”, indo buscar inspiração às lógicas e princípios da vida na Terra e à sua capacidade de regeneração, resiliência e evolução contínua. É revitalizar e recuperar os ecossistemas exauridos ou degradados, num ponto de não retorno.
A forma como planeamos objetivos e medimos o impacto em sistemas regenerativos deve, neste sentido, incluir indicadores para a contribuição positiva e da prosperidade sistémica, tais como a resiliência económica e social, a biodiversidade, a devolução de água ou a distribuição de riqueza.
O impacto é avaliado a partir da sua análise sistémica (Teoria dos Sistemas), dando enfâse às interconexões de indicadores e à iteração de recolhas nas fontes. A avaliação é também enquadrada no contexto local, de forma a considerar dados específicos como sejam indicadores bioregionais (em alinhamento com os ciclos naturais dos ecossistemas).
Algumas referências de metodologias e projetos que aplicam abordagens regenerativas incluem:
- Desenvolvimento e Design Regenerativo (Grupo Regenesis)
- Capitalismo regenerativo (Capital Institute)
- Wellbeing Economy Alliance (WEAll)
- Economia Donut (Doughnut Economics)
- Earthwise Alliance (Portugal)
As abordagens regenerativas vão mais fundo no questionamento dos modelos atuais de gestão e de pensamento e dos princípios de “crescimento”, enquanto as ferramentas de ESG se tendem a limitar à redução de dano. Os planos e estratégias atuais de sustentabilidade focam-se na minimização do dano (consequência), sem muitas vezes abordar a origem, e as provas da sua insuficiência estão à vista. É tempo de olhar com seriedade e entusiasmo os modelos regenerativos e perguntar: “quanta vida posso acrescentar?”